Por Fernando Vieira Filho(1)
O transtorno do pânico é definido
como crises recorrentes de forte ansiedade ou medo. As crises de pânico são
intensas, repentinas e inesperadas que provocam nas pessoas sensação de mal
estar físico e mental, juntamente a um comportamento de fuga do local onde se
encontram, seja indo para um pronto socorro, seja buscando ajuda de quem está
próximo.
A reação de pânico é uma reação
normal quando existe uma situação que favoreça seu surgimento - estar num local
fechado onde começa um incêndio, estar afogando-se ou em qualquer situação com
eminente perigo de morte. Nas situações em que a própria vida está ameaçada, o
organismo toma medidas que normalmente não tomaria, perdendo o medo de pequenos
perigos para livrar-se de um perigo maior. Para fugir de um leão podemos subir
numa árvore mesmo tendo medo de altura ou fazendo esforços incomuns, sofrendo
pequenos ferimentos que no momento não são percebidos. O estado de pânico é, portanto
uma reação absolutamente normal e necessária para a autopreservação. Aqueles
que fogem mais rapidamente do perigo de morte têm mais chances de sobreviver.
Desta forma é feita a seleção natural em nosso planeta.
O pânico passa a ser identificado
como patológico e por isso ganha o título de transtorno do pânico quando essa
mesma reação acontece sem motivo, espontaneamente.
Diagnóstico
O diagnóstico do transtorno do
pânico possui critérios bem definidos, não podemos classificar como transtorno
do pânico qualquer reação intensa de medo. Assim sendo, estão aqui apresentados
os critérios usados para fazer este diagnóstico:
a) Existência de vários ataques,
no período de semanas ou meses.
b) Dentre vários sintomas, pelo
menos quatro dos seguintes devem estar presentes:
1- Aceleração da frequência
cardíaca ou sensação de batimento desconfortável (o coração parece que quer
sair pela boca)
2- Suor abundante difuso ou
localizado (mãos ou pés)
3- Tremores finos nas mãos ou
extremidades ou difusos em todo o corpo
4- Sensação de sufocação ou
dificuldade de respirar
5- Sensação de desmaio
iminente
6- Dor ou desconforto no peito (o
que leva muitas pessoas a acharem que estão tendo um ataque cardíaco)
7- Náusea ou desconforto
abdominal
8- Tonteiras, sensação de estar
com a cabeça leve ou vazia
9- Despersonalização* ou
desrealização** - Essas duas sensações ocorrem em aproximadamente 70% da
população geral, não significando como ocorrência isolada uma manifestação da
doença.
*A despersonalização é uma
sensação comum nos estados ansiosos que pode surgir mesmo fora dos ataques de
pânico. Caracteriza-se por dar a pessoa uma sensação de não ser ela mesma, como
se estivesse saindo de dentro do próprio corpo e observando a si mesmo.
**A desrealização é a sensação de
que o mundo ou o ambiente em volta estão diferentes, como se fosse um sonho ou
houvesse uma nuvem (a pessoa fica “aérea”).
10- Medo de enlouquecer ou de
perder o controle de si mesmo
11- Medo de morrer
12- Alterações das sensações
táteis como sensação de dormências ou formigamento pelo corpo
13- Enrubescimento ou ondas de
calor, calafrios pelo corpo
c) Há substâncias que podem gerar
reações de pânico, como os estimulantes. Quando o pânico ocorre sob esse efeito
não se pode dar este diagnóstico assim como também não pode ser dado em
decorrência de outros estados ansiosos anteriores como um ataque de pânico
secundário a uma exposição forçada de um fóbico social por exemplo.
Prováveis causas
As causas dos ataques de pânico
são desconhecidas, contudo, cada um dos pensamentos teóricos vigentes possui
suas próprias teorias:
Teoria Neuroanatômica:
Baseando no princípio de que o
ataque de pânico é uma perturbação do sistema fisiológico que regula as crises
normais de medo e ansiedade, cientistas elaboraram hipóteses do fluxo de
acontecimentos no cérebro dos pacientes com pânico. A reação de pânico começa
no locus ceruleus (LC) porque sua estimulação produz quase todas as reações
fisiológicas e autonômicas do pânico. O LC por outro lado se conecta ao nervo
vago que se estende a regiões do tórax e abdômen, podendo explicar a origem do
mal estar abdominal, sensação de sufocação e taquicardia tão frequentes nas
crises de pânico. A ponte, onde está localizado o LC, possui amplas conexões
com o sistema límbico, logo acima, e é neste sistema onde se localizam as
reações de medo e ansiedade. A ponte é também caracterizada por estar fora da
área onde se pode exercer influência voluntária como no córtex, isto poderia
explicar a origem inesperada e incontrolável das crises.
Teoria Comportamental:
Para o modelo comportamental a
teoria neuroanatômica é insuficiente. Vários princípios comportamentais estão
envolvidos no desenvolvimento do pânico: o condicionamento clássico, o
princípio do medo do medo, a teoria da interpretação catastrófica e a
sensibilidade à ansiedade. No princípio do condicionamento clássico, o paciente
desenvolve o medo a partir de um determinado estímulo e sempre que exposto a
esse estímulo, a recordação de medo é evocada fazendo com que a pessoa associe
a ideia do medo ao local onde se encontra. Por exemplo, ao passar num túnel,
caso sinta-se mal por qualquer motivo, passa a relacionar o túnel ao mal estar
e gerando equivocadamente nova reação de ansiedade que passa a ser reforçada
pelo alívio da saída do túnel. Este modelo não pode explicar todas as crises de
pânico, nem é pretensão do pensamento comportamental explicar tudo a partir de
uma só teoria comportamental.
Teoria Psicanalítica:
A teoria psicanalítica afirma que
as crises de pânico se originam do escape de processos mentais inconscientes
até então reprimidos. Quando existe no inconsciente um processo como uma ideia,
ou um desejo, ou uma emoção com o qual o indivíduo não consegue lidar, as
estruturas mentais trabalham de forma a manter esse processo fora da
consciência do indivíduo. Contudo quando o processo é muito forte ou quando os
mecanismos de defesa enfraquecem, os processos reprimidos podem surgir
"desautorizadamente" na consciência do indivíduo pela crise de
pânico. A mente, nesse caso, trabalha no sentido de mascarar a crise de tal
forma que o indivíduo continue sem perceber conscientemente o que de fato está
acontecendo consigo. Por exemplo, o indivíduo tem uma atração física por uma
pessoa com quem não pode estabelecer contato, neste caso a própria irmã. Este
desejo, então, fica reprimido porque a real manifestação dele causaria intensa
repulsa, raiva ou nojo de si próprio. Para que esses sentimentos negativos
permaneçam longe da consciência, a estrutura mental do indivíduo mantém o
desejo reprimido. Caso esse desejo surja, apesar do esforço por reprimir, o
aparato mental transforma o desejo noutra imagem, podendo esta ser uma crise de
pânico. Uma vez que o equilíbrio mental foi ameaçado, o funcionamento mental
inconsciente transforma o conteúdo da repressão numa crise de pânico.
Minha opinião pessoal, baseada na Doutrina Espírita:
Como seguidor da Doutrina
Espírita, codificada por Allan Kardec, acredito que o transtorno do pânico pode
também ser causado pela obsessão (ação de entidade espiritual sobre uma pessoa
viva). Cito aqui, um caso, em que o paciente em outra encarnação havia
prejudicado uma pessoa que, agora, desencarnada, se aproximou dele para acertar
contas. A presença da culpa, de forma inconsciente, instalou uma “tomada”
psíquica no paciente (o devedor), que lhe permitiu se conectar ao seu desafeto
(espírito perseguidor), surgindo um intercâmbio psíquico dos envolvidos na
mesma trama infeliz. Assim, sem nenhum atendimento em nível espiritual,
instalou-se o transtorno psíquico do paciente, e, lentamente, ele foi sendo
dominado pela força do agente agressor desencarnado, que se lhe assenhoreou a
casa mental, de forma permanente, levando-o à loucura irremediável.
Grupos de Risco
Aproximadamente 1,5 a 2% das
pessoas são afetada por esse transtorno, o que significa uma prevalência alta,
sendo ainda mais alto, de 3 a 4% se os critérios para diagnóstico não forem
inteiramente preenchidos, ou melhor, se considerarmos as crises parciais e os
quadros de ataques de ansiedade atípicos. As mulheres são mais afetadas do que
os homens, sendo aproximadamente o dobro a incidência do transtorno do pânico
sobre as mulheres em relação aos homens. A idade de início concentra-se em torno
dos trinta anos, podendo começar durante a infância ou na velhice. A mulher de
30 anos é o grupo sobre o qual se observa maior incidência desse
transtorno.
Duração
O curso do pânico é imprevisível,
tanto podem durar alguns meses como pode durar vários anos. Desde que o pânico
começou a ser estudado, há poucas décadas, ainda não foi possível se verificar
em que percentagem ele dura a vida toda. Os estudos de longo seguimento chegam
a perto de uma década e aproximadamente 10% dos pacientes continua sintomático
após esse período, ou seja, continua tendo ataques de pânico quando as
medicações são suspensas. É importante notar que o tratamento não cura o
pânico, apenas suprime os sintomas e permite o paciente ter uma vida normal,
mas a suspensão do tratamento leva a uma recaída, caso não tenha ocorrido uma
remissão espontânea do transtorno. O tratamento, mesmo quando bem conduzido,
não traz garantia de cura, ou os sintomas remitem sozinhos ou permanece a
necessidade de utilização das medicações. Há relatos de casos de remissão
espontânea durante a gestação. A meu ver, dentro da visão espírita, essa
remissão que ocorre durante a gravidez é justamente pelo fato de que o obsessor
que causava o pânico pode ser o bebê que está se preparando para a
reencarnação.
Medicação (Necessário)
O tratamento médico mais
recomendado para o bloqueio das crises são os psicofármacos. Os antidepressivos
de todos os grupos e os tranquilizantes são eficazes no controle das crises.
Atualmente, mediante a disponibilidade de vários psicofármacos, dificilmente um
paciente não melhora com alguma medicação. Todos os grupos de antidepressivos
testados mostraram-se eficazes, os tricíclicos e tetracíclicos, os inibidores
da recaptação da serotonina e os inibidores da MAO. Apesar de todos os grupos
terem sido testados com sucesso, nem todas as medicações de cada grupo foram
cientificamente testadas, presume-se apenas que sejam eficazes. Assim, também
os tranquilizantes benzodiazepínicos foram testados e, dependendo da dose,
todos obtiveram sucesso. A decisão quanto à escolha da medicação deve obedecer
a critérios básicos como: outras doenças presentes no paciente, portadores de
glaucoma não podem tomar tricíclicos, interações com outras medicações já em
uso, história de reação indesejável a determinadas medicações em escolha,
características individuais (por exemplo, os pacientes obesos devem optar
preferencialmente pelos inibidores da recaptação da serotonina, os pacientes
muito magros por tricíclicos). Pessoas com problemas sexuais devem evitar os
inibidores da recaptação da serotonina. Por fim, como há entre essas medicações
marcante diferença de preços, é válido considerar isso como critério de escolha
desde que não seja feita em detrimento do bem estar do paciente.
Quanto à estratégia de uso das
medicações, é recomendável que os antidepressivos sejam evitados isoladamente
no início do tratamento. Como essas medicações só passam a bloquear as crises
após duas semanas em média, e provocam uma piora do pânico no começo, é
preferível que nesta fase seja dado junto ao antidepressivo, um tranquilizante,
que tanto poderá ser suspenso depois, como continuar sozinho em monoterapia. Os
tranquilizantes de escolha são os de alta potência, embora os de baixa potência
possam ser usados em doses mais elevadas.
Terapias
A terapia
cognitivo-comportamental pode ser indicada para o tratamento do pânico, contudo
as medicações são mais rápidas no bloqueio das crises (colocam a “casa interna”
em ordem).
Junto ao tratamento médico e
psicoterápico, podem ser utilizados remédios florais de Bach e homeopáticos,
como apoio.
Sabendo da forte influência
espiritual atuando neste tipo de transtorno, recomendo ao paciente e à sua
família que procurem desenvolver a religiosidade, seja a denominação que for
dentro de instituições sérias e tradicionais. Se o paciente for espírita, recomendo
que vá ao Centro Espírita, procurando tomar passes várias vezes na semana,
participar de trabalhos de desobsessão, e procurar se engajar em trabalhos
voluntários em sua comunidade civil ou religiosa.
Enfim, exercitar a caridade em
todos seus aspectos (material e moral).
Consequências
Frequentemente encontramos entre
os pacientes com pânico certas reações distintas do próprio pânico, mas
oriundas dele. A mais comum é a agorafobia. A ansiedade antecipatória é uma
ocorrência comum em outros transtornos de ansiedade, trata-se simplesmente da
preocupação excessiva que antecede os eventos, às vezes por alguns dias. A
pessoa não sabe viver o “aqui e agora”. Como o paciente com pânico nunca sabe
quando sofrerá nova crise está sempre apreensivo, quando relaciona à crise a
determinado local ou situação passa a ter ansiedade referentes a ele. A
evitação é o comportamento decorrente da atribuição do local à sua crise; por
exemplo: quem tem medo de ter crises em túneis dá voltas maiores para evitá-lo.
Por fim, a hipocondria é uma manifestação frequente no transtorno do pânico,
apesar de encontrarmos poucas referências nos livros a esse respeito, na
prática é uma relação bastante comum. Como as crises são fortes e muitas vezes
associadas a mal estar cardíaco, os pacientes acreditam que sofrem algum mal
cardiológico e por isso são encontrados nos consultórios e laboratórios de
exames cardíacos, além das emergências gerais quando julgam estarem tendo um
ataque cardíaco. A ligação entre o pânico e doenças cardíacas é nula conforme
diversos estudos mostraram, ou seja, não existem evidências de que os ataques
de pânico com forte dores no peito venham a provocar qualquer tipo de doença
cardíaca, nem as doenças cardíacas por outro lado podem causar pânico.
A família
Frequentemente os doentes com
pânico sofrem muito duas vezes, a primeira por causa dos ataques e suas
consequências, e a segunda por causa da incompreensão de que são vítimas. Em
meus atendimentos, ouço de meus clientes que seus filhos, pais, cônjuges os criticam
por causa das crises, dizendo que são besteiras psicológicas, entre outras
coisas. Em verdade, a primeira coisa que os familiares têm que fazer é
compreender, aceitar e apoiar os doentes. O transtorno do pânico é uma doença
como outra qualquer, a pessoa não quer tê-la, nem pode evitá-la.
Aqui estão algumas recomendações
às pessoas que convivem com quem tem o transtorno do pânico:
Evite dizer:
"Relaxe, acalme-se..."
"Você pode lutar contra
isso..."
"Não seja boba (o)!"
"Não seja covarde!”, Etc.
Recomendações aos familiares de
pacientes com transtorno do pânico:
Não faça suposições a respeito do
que a pessoa com pânico precisa, pergunte a ela;
Seja previsível, evite surpresas;
Proporcione a quem sofre de
pânico a paz necessária para se recuperar;
Procure ser otimista para com
quem tem pânico, procure aspectos positivos nos problemas;
Não sacrifique sua própria vida,
pois acabará criando grandes ressentimentos e mágoas;
Não entre em pânico quando o
doente tiver um ataque;
Seja paciente, aceite e respeite
as dificuldades de quem tem pânico, mas não se conforme como se ela(e) fosse
uma inválida(o).
Encaminhe o doente para
atendimento e tratamento espirituais em instituições religiosas sérias e
tradicionais, e o incentive à prática da caridade, de forma sistemática.
(1) Fernando Vieira Filho –
Psicoterapeuta clínico, palestrante e escritor.
Autor do livro CURE SUAS MÁGOAS E
SEJA FELIZ! – 2ª Ed. - Barany Editora - 2012. E coautor do livro DIETA DOS
SÍMBOLOS – 6ª Ed. - Melhoramentos - 2004.
É autor dos E-Books:
PSICOFÁRMACOS - Uso e aplicações de forma simples e eficaz.
PSICOPATOLOGIA - Apresentada de forma simples e objetiva - Incluindo
psicopatologias infantis.
SISTEMA DE TERAPIA FLORAL do Doutor Edward Bach (Portuguese Edition) –
Amazon – 2013. E-book.
E-mail de contato:
ffvfilho@terra.com.br
Conheça seus blogs e sites:
http://www.curadossentimentos.com.br
http://www.harmoniacomflorais.com
http://harmonize-se-com-florais-de-bach.blogspot.com.br/
http://curesuasmagoasesejafeliz.blogspot.com.br/
http://maldealzheimerhoje.blogspot.com.br/
http://obsessaoepsicopatologias.blogspot.com.br/